Angelina Jolie: Missões de campo como Embaixadora da Boa Vontade

Jolie brinca com crianças | IKMR1.   Fevereiro de 2001, Serra Leoa.

“A primeira viagem, a primeira vez em que estive em Serra Leoa, a guerra ainda estava acontecendo. E era uma guerra tão brutal, com as pessoas tendo braços e pernas cortados. Eu me lembro de ter visto uma criança de três anos de idade com braços e pernas amputados. Eu não conseguia entender como aquilo podia fazer sentido em qualquer realidade, como as pessoas podiam ser tão horríveis umas com as outras”.

Em entrevista à CNN em 2007, Jolie afirmou: “Em Serra Leoa, eu tive a compreensão de que existem horrores reais no mundo e um tipo de crueldade e de violência que eu não sabia que existia. Eu desconhecia que as pessoas podiam sofrer daquela forma, tantas pessoas que tiveram braços e pernas sistematicamente cortados. Até crianças de três anos de idade sem braços e pernas porque eles foram cortados, ou amigos que tiveram que cortar mãos e pernas de outros amigos e ficaram traumatizados. Situações brutais que eu nunca tinha visto. Eu me senti tão ignorante, tão ingênua, verdadeiras atrocidades acontecendo ao redor do mundo. E eu sabia que como mulher, como ser humano, tinha a responsabilidade de me inteirar sobre isso, não deixar essas pessoas passarem despercebidas. Pessoalmente, eu sabia que precisava disso e para que nunca mais fosse confrontada com uma situação em que pensasse ‘meu Deus, como eu não sabia que isso estava acontecendo’. E quanto mais e mais eu conhecia os refugiados e famílias de refugiados, via uma força, um espírito que nunca vi antes em qualquer outra pessoa. Eles não vivem como vítimas. Eles certamente sabem que foram injustiçados e são muito inteligentes, isso geralmente é algo que as pessoas não conectam aos refugiados, pensam neles como um grupo de desesperados. Einstein foi um refugiado. Eles são, na verdade, algumas das pessoas mais inteligentes, resilientes do mundo. E muitos deles, antes de se tornarem refugiados, tinham vidas semelhantes às nossas”.

2.   Junho – Julho de 2001, Camboja.

Questionada sobre o que esperava alcançar através de sua posição no ACNUR, Jolie afirmou: “Conscientizar as pessoas do sofrimento dos refugiados. Acho que eles devem ser enaltecidos pelo que sobreviveram, e não menosprezados. São pessoas incríveis que não são realmente compreendidas. Eu só quero conhecê-los pessoalmente ao redor do mundo, porque eles são meus heróis, são pessoas maravilhosas”.

3.   Agosto de 2001, Paquistão.

Jolie visitou o Paquistão para conhecer os programas de atendimento do ACNUR para os dois milhões de afegãos refugiados no país. Também doou US$ 1 milhão para ajudar afegãos refugiados em países vizinhos, como o Irã.

4.      Março de 2002, Namíbia.

Jolie visitou o campo de refugiados Osire, doando alimentos, barracas e equipamentos esportivos, além de quantia em dinheiro para projetos educacionais e atendimento das mulheres. O campo foi fundado em 1998 e à época contava com população de 24 mil refugiados, a maioria angolana. Após passar o dia com os refugiados, Jolie disse “Essas pessoas têm um espírito incrível e determinação”.

5.   Maio de 2002, Tailândia.

Jolie visitou o campo de refugiados de Tham Hin, estabelecido em 1997 e à época com população de 9.000 pessoas, majoritariamente da etnia Karen, oriundas de Mianmar. Quando perguntada sobre suas impressões do campo, Jolie disse que os refugiados “estão realmente cuidando deles próprios e tomando a responsabilidade para si. Este campo é um exemplo real de campo de trabalho”.

6.   Junho de 2002, Equador.

Primeira experiência de Jolie na região andina. Visita aos refugiados colombianos que fugiram da guerrilha e da violência paramilitar. “O que foi realmente chocante foi que cada pessoa que você encontrava dizia que alguém da sua família tinha sido afetada. Filho de alguém foi morto, o marido de alguém, alguém apanhou”.

7.   Outubro de 2002, Quênia.

Visita ao campo de refugiados de Kakuma, então lar de cerca de 80.000 pessoas, sendo 71% sudaneses, abrigando também nacionais de Uganda, Burundi, Ruanda, RDC, Eritreia, Etiópia e Angola. Muitas meninas emocionaram Jolie ao narrar suas trajetórias e lhe dizer o quanto queriam ir à escola e receber educação, mas por algum motivo não podiam estudar. Sobre uma garota sudanesa que lhe contou sua história, Jolie disse: “Ela perdeu toda a sua família quando tinha apenas cinco anos de idade e tem vivido nesse campo por mais de 10 anos. O que você diria a alguém que perdeu toda a sua família aos cinco anos?”. Após sentar e conversar com as meninas sob a sombra de uma árvore em um centro de recepção, Jolie disse: “Essas meninas são tão fortes, tão inspiradoras. Elas querem educação porque desejam uma vida melhor, elas sabem que não têm que permanecer para sempre na parte de baixo da pilha e querem crescer”. Jolie se surpreendeu quando ouviu como muitas das meninas e mulheres no acampamento foram submetidas a diversas formas de violência – de estupro à mutilação genital – e quantas não podem frequentar a escola devido a tarefas domésticas. “Nessa viagem, a minha principal preocupação foi a situação das mulheres refugiadas, principalmente das meninas. Em Kakuma, cerca de mil meninas estão fora da escola. Fiquei chateada ao descobrir que boa parte delas está nessa situação por causa de casamentos antecipados e forçados. Vi mães de 12 anos de idade!”. Jolie doou dinheiro para a construção de uma escola para garotas no acampamento. A atriz afirmou que já tinha visto campos piores e melhores do que o de Kakuma, mas o que tornou este diferente dos outros foi a quantidade de meninas que não tinham a chance de uma vida melhor. “Não é justo, simplesmente não é justo. Cada criança, cada menina tem o direito à educação. Aqui eles têm apenas o suficiente para sobreviver, mas são tão especiais, tão espirituosos. Sou eu quem deve aprender com eles”.

8.   Dezembro de 2002, Kosovo.

Jolie visitou retornados, refugiados croatas, minorias e comunidades mistas, relatando seus problemas de integração local, educação, trabalho e infraestrutura.  “É um lugar triste. É difícil enxergar como pode um dia voltar ao normal. Nenhuma alegria verdadeira, mas há a capacidade de sobreviver. De seguir em frente, tentar reconstruir. Tentar transformar antigos inimigos em vizinhos”. Jolie ainda ressaltou em seu diário: “É muito deprimente aqui, mas as pessoas são muito fortes. Há muita bravura, homens trabalhando duro e mulheres determinadas a ter paz e reconstruir o seu país. E a sua vontade de fazer isso é inspiradora”.

9.   Março de 2003, Tanzânia.

Em sua segunda missão ao país, Jolie acompanhou um grupo de 91 crianças que tinha acabado de chegar de RDC, do trajeto até o campo à construção das tendas de habitação. O campo Lugufu acolhia à época 80 mil refugiados congoleses.

10.  Abril de 2003, Sri Lanka.

O país passou por 20 anos de guerra civil. Ao visitar uma família repatriada ao norte do Sri Lanka, Jolie relatou a fala de uma mulher: “Nós estamos achando muito difícil viver. Às vezes pensamos que talvez morreremos de fome, talvez incendiaremos nós mesmos. Talvez seja melhor em outro lugar. Mas as crianças nos dizem ‘não, nós temos que ficar fortes, vai melhorar, só não sabemos quando’”. Ao visitar uma casa para 516 meninas órfãs e abandonadas, entre um a dezesseis anos de idade, Jolie relatou em seu diário: “Encontrei com um grupo de meninas de doze a dezesseis anos. Perguntei-lhes o que elas queriam ser quando fossem adultas. Muitas querem ser médicas, algumas professoras, mas nenhuma menina quer ser mãe. Nós deixamos claro ‘não agora, mas quando vocês forem mais velhas’. Ainda assim, ninguém disse nada sobre maternidade. Talvez porque elas foram abandonadas, talvez porque elas veem as crianças como um fardo. Quando perguntadas sobre o que mais gostavam de fazer, elas disseram ‘rezar, pintar e estudar’. Eu perguntei a elas ‘quando mais velhas, onde vocês gostariam de ter uma casa, perto de onde cresceram ou no lugar de origem de suas famílias?’. A maioria delas respondeu a segunda opção. Mesmo completamente sozinhas, elas querem ir para casa. Eu perguntei ‘tem alguma coisa que vocês gostariam que tivesse aqui?’. Elas eram crianças, estava esperando algo divertido como resposta. Mas elas responderam uma biblioteca e uma mesa, por favor”. Jolie também visitou um albergue e uma escola para crianças com deficiência auditiva e visual: “Muitas nasceram assim, outras ficaram surdas por causa dos bombardeios. Algumas nasceram com deficiência física porque as mulheres grávidas tiveram que dar à luz em fuga quando o conflito começou. Elas tiveram que deixá-los para trás ou morreram durante o parto. Um nascimento traumático para a mãe pode causar defeitos na criança”. A Embaixadora também relatou os casos de violência doméstica e estupro, inclusive contra crianças. A maior parte da população fala tâmil, enquanto a polícia fala sinhalese, gerando graves implicações: em 2002, Save The Children reportou a prisão de 57 crianças por violência, sendo que, na verdade, elas eram as vítimas.

11.  Agosto de 2003, Rússia.

No norte do Cáucaso, Jolie aprendeu sobre todos os aspectos das operações do ACNUR na região e visitou campos de deslocados internos chechenos, endossando seus argumentos de que o retorno à terra natal ainda não seria seguro. Reuniu-se com crianças que nasceram dentro dos campos e não conheciam outro tipo de vida. Em Moscou, Jolie se reuniu com várias famílias de solicitantes de refúgio africanas, relatando suas dificuldades de integração local, problemas referentes à educação, moradia e segurança. Durante visita à Federação Russa, também se encontrou com altos funcionários do governo para discutir a situação dos desenraizados. Em 22 de agosto, foi premiada pelo Presidente da República da Inguchétia, Murat Zyazikov, com a mais alta ordem da república, a Ordem de Mérito, por seus relevantes serviços à causa humanitária, especificamente aos refugiados e pessoas deslocadas. No final da missão, a Embaixadora desabafou em seu diário: “Sentada no avião, mais uma vez voltando para a segurança da minha casa, para meu país e para meu filho. Eu sempre me sinto culpada por partir porque é tão fácil para mim. Eu sei que milhares de pessoas morrem todos os dias na Califórnia, em Londres ou em Nova York. Mas a maioria dessas pessoas está em lugares como África, Chechênia, Balcãs, Ásia Central e Colômbia, e talvez o mundo esteja acostumado com essas mortes. São notícias velhas? São muitas? Ou será que é porque sentimos que eles não têm nada para nos oferecer em troca? No final do dia, o que importa é que todos somos iguais. Eles são famílias como nós. E eles precisam da nossa ajuda, nosso apoio. E em áreas como a Chechênia, eles precisam que nós não os esqueçamos”.

12.  Dezembro de 2003, Jordânia.

Jolie estava em viagem particular, mas pediu para visitar o campo de refugiados de Ruwaished, no deserto jordão a 70 km da fronteira com o Iraque. O acampamento abrigava à época cerca de 800 pessoas que haviam fugido do Iraque, sendo a maioria palestina. Ao visitar uma escola e um centro de saúde no campo, Jolie observou: “As crianças cantaram canções de orgulho e de saudade da terra natal. Foi muito comovente ouvi-las falar sobre o sonho de ter um lugar para chamar de casa”. Na escola para crianças entre quatro a doze anos de idade, a Embaixadora relatou: “Muitos querem ser professores ou médicos. Um arquiteto, outro advogado. Eu pergunto por que. ‘Para fazer justiça para as pessoas, é preciso que haja mais justiça’”. Onze meninas com menos de sete anos cantaram para ela: “A Palestina foi vendida. Deus sabe que nós estamos feridos e magoados. Mas seremos pacientes, tomaremos nossa vingança e nossas casas de volta”.

13.  Dezembro de 2003, Egito.

Em companhia do também Embaixador da Boa Vontade, Adel Imam, Jolie visitou refugiados sudaneses nos arredores da capital egípcia, distribuindo roupas de inverno, cobertores e brinquedos, além de doação em dinheiro para projeto comunitário na área da saúde. Os Embaixadores também discutiram planos para trabalhar em conjunto a fim de aumentar a conscientização sobre os refugiados no Oriente Médio.

14.  Abril de 2004, Arizona, EUA.

Jolie visitou requerentes de asilo detidos em três instalações no deserto do Arizona. ACNUR é contra a detenção de solicitantes e refugiados, porém, como os EUA e outros países industrializados seguem políticas com programas de retenção, a agência tem muitas vezes desempenhado papel vital no monitoramento e na garantia de melhores condições para essas pessoas, principalmente crianças desacompanhadas. Segundo ACNUR, milhares de requerentes de asilo são detidos todos os anos nos EUA, incluindo mais de cinco mil crianças por ano.

15.  Junho de 2004, Chade.

Jolie visitou os campos para refugiados na fronteira leste do Chade, os quais recebem pessoas vindas de Darfur, no Sudão Ocidental. Ouviu histórias de ataques das milícias e de como os campos são considerados prisões abertas, pois do lado de fora os refugiados se tornam mais vulneráveis à violência sexual e espancamento. Acompanhou as agências humanitárias apressando-se para garantir assistência de emergência aos refugiados, auxiliando, por exemplo, na distribuição de alimentos e nos procedimentos de verificação de desnutrição em crianças. Também relatou os casos de violência sexual e/ou baseada em gênero na região, onde as mulheres são consideradas cidadãos de segunda classe e frequentemente vítimas de estupro e sequestro. Rodeada por crianças, Jolie descreveu a sensação em seu diário: “Se eu olhasse para elas por muito tempo, eu começaria a chorar. Elas testemunharam tanto. Elas não têm nada, mas ainda assim se sentam em silêncio em torno dos mais velhos e, se você se depara com seus olhos, elas sorriem. Ainda com generosidade de espírito. Isso só torna tudo mais devastador”. Jolie também se emocionou ao conversar com as crianças e descobrir que a maioria era órfã ou não sabia onde seus pais estavam: “Sento-me com as crianças. Suas roupas têm tantos buracos. Peço ao tradutor que diga a elas ‘vocês já enfrentaram muita coisa, vocês têm sido muito fortes’. Algumas sorriem. Outras abaixam as cabeças. Elas querem que eu saiba que sentem saudade da escola. Contam-me como foram espancados. Eu perguntaria aquilo que geralmente indago às crianças ‘o que você quer ser quando crescer?’ ou qual é seu esporte favorito, comida etc. Mas perguntar isto a essas crianças seria cruel. Elas não tem infância, nem esperança”. Ao encontrar um menino com aproximadamente dez anos segurando algumas páginas de caderno grampeadas, Jolie relatou: “Ele não vai à escola, mas estuda com suas lições antigas, se preparando. Eu daria qualquer coisa por uma sacola cheia de canetas e papel para eles. Fiz uma promessa a mim mesma de sempre carregar isso (nas missões)”.

16.  Outubro de 2004, Tailândia.

Jolie visitou o campo de Ban Pang Kwai, localizado aproximadamente a três quilômetros da fronteira Tailândia – Mianmar. Aberto em 1996 e à época da missão com quase vinte mil habitantes, sendo a maior parte birmaneses agricultores, o campo despertou uma mistura de emoções em Jolie: “É uma cidade cheia de pessoas especiais. Sobreviventes. Famílias notáveis. Mas também é uma prisão”. O campo encontra-se em uma área arrendada, o que impossibilita os moradores de cultivarem o solo, e mais da metade dos habitantes é animista: “Parece que, em muitos aspectos, eles têm todos os motivos para não ter fé. E, ainda assim, a fé deles é mais forte do que a da maioria”. Jolie visitou também escola feita de bambu com telhado de folhas secas, onde encontrou crianças focadas e dedicadas: “Você pensa, sabendo a realidade do país deles, se um dia eles terão a chance de um futuro livre e seguro em Mianmar. A estabilidade no país só será possível se esta geração estiver concentrada e educada. Se houver uma chance de retornar e reconstruir, eles estarão prontos”, escreveu Jolie em seus diários. Ao se deparar com professores tocando um violão velho e ensinando música às crianças, a Embaixadora destacou: “É mais do que apenas uma canção. É uma forma de manter a língua e a cultura vivas quando se vive em outro país. Passamos um tempo com eles. Foi maravilhoso. Um momento de sorrisos e paz”. Jolie também visitou uma “escola acelerada”, isto é, um ensino supletivo para os jovens que perderam muitos anos de educação por conta do conflito, como as crianças soldados. Jolie encontrou uma delas: sequestrada aos 14 anos de idade enquanto estava a caminho de casa, foi colocada na parte traseira de um caminhão com algemas nas pernas: “Fomos forçados a quatro ou cinco meses de treinamento. Eles diziam ‘Você vai mentir. Você dirá que tem dezoito anos. Você não é uma criança. Você é um soldado agora’. Não posso nem contatar meus pais, ainda mais agora que eles podem ser alvos porque eu fugi”. Jolie ainda perguntou: “Nenhuma chance de vê-los?”. O menino olhou para o chão e respondeu suavemente: “Não”. A Embaixadora também visitou um orfanato, onde foi recebida com canções sobre Jesus Cristo. Em seu diário, escreveu: “Minha mãe era católica e encantadora, eu vejo a beleza dessa religião. Mas quando parece que não há opção – uma nova cultura em troca de ajuda – não parece justo. Obviamente os missionários têm feito muitas coisas boas, mas todas as crianças deveriam ter a liberdade de fazer suas próprias escolhas. Mais importante, tendo perdido o seu país, eles devem conhecer as crenças de seus antepessados”.

17.  Outubro de 2004, Sudão.

Em missão em Darfur, Jolie acompanhou a situação de dezenas de deslocados internos, ouvindo histórias sobre ataques a aldeias e estupros, como a de uma menina de 12 anos que fora violentada juntamente com a mãe. “Eu encontrei muitas crianças que foram presas no meio do conflito. Elas estavam vestindo roupas cheias de buracos, roupas que estavam se despedaçando. Eles não têm acesso à escola ou atendimento médico, mas quando eu perguntava o que eles precisavam, antes de comida e roupas, eles respondiam ‘segurança’”. Em entrevista em 2005, Jolie afirmou: “Quando entrei em Darfur, vi muitos trabalhadores humanitários emotivos e frustrados por não poderem se movimentar e atender apropriadamente as pessoas, já que estavam preocupados com o fato de que aquelas pessoas estavam vivendo entre àqueles que as machucaram”.

18.  Dezembro de 2004, Líbano.

Jolie estava em viagem particular ao Líbano, mas aproveitou para visitar o escritório regional do ACNUR em Beirute, além de jovens refugiados e pacientes com câncer. Jolie também se reuniu com crianças refugiadas nacionais de Serra Leoa, Sudão, Afeganistão e Iraque e distribuiu presentes.

19.  Maio de 2005, Paquistão.

Jolie agradeceu o Paquistão pela hospedagem de milhões de afegãos e pediu ajuda internacional para combater a pobreza nos dois países através de desenvolvimento econômico. Também acompanhou a partida de dezenas de afegãos através do programa de repatriação voluntária e conversou com crianças que ganhavam a vida recolhendo lixo, ocupação comum para os afegãos no Paquistão. Em visita a uma olaria nos arredores de Islamabad, chorou ao ver crianças com no mínimo seis anos de idade trabalhando para ganhar um centavo de dólar a cada três tijolos de lama. “Foi realmente uma das piores coisas que eu já vi, é muito, muito difícil como mãe ver crianças tendo que trabalhar”.

20.  Novembro de 2005, Paquistão.

Jolie voltou ao Paquistão para ajudar na crise humanitária agravada pelo terremoto no país. Apesar de assistência em caso de desastres naturais não pertencer ao escopo de atuação do ACNUR, a Embaixadora salientou: “É uma obrigação estar aqui e ajudar os paquistaneses, apoiá-los nesse momento, depois de ter visto o que eles fizeram pelo povo afegão ao longo dos anos”.

21.  Novembro de 2006, Índia.

Jolie se reuniu com mulheres afegãs e birmanesas, as quais lhe contaram como fugiram da perseguição em seus países de origem e encontraram segurança na Índia. Também brincou com crianças refugiadas e agradeceu a experiência: “Sou grata às famílias de refugiados que passaram um tempo comigo e compartilharam suas histórias, são pessoas notáveis e corajosas”. Sobre os refugiados afegãos em Nova Déli, Jolie alertou: “Nós muitas vezes nos concentramos em situações de emergência, nos esquecemos de que existem milhões de refugiados em todo o mundo que passam anos, até mesmo décadas, fora de seus países. A comunidade internacional realmente deve trabalhar mais para encontrar soluções para esses refugiados urbanos esquecidos”.

22.  Dezembro de 2006, Costa Rica.

O país recebe majoritariamente colombianos e Jolie pôde conhecer os beneficiados pelo programa de microcrédito do ACNUR para integração dos refugiados no ambiente urbano. A Embaixadora também conversou com jovens colombianos sobre preconceito: “Estamos automaticamente associados com coisas ruins, crime, delinquência, tráfico de drogas, mas as pessoas nunca pensam em nós como vítimas do conflito”, disse um adolescente. Jolie ressaltou a necessidade de maior tolerância e solidariedade para com os refugiados.

23.  Fevereiro de 2007, Chade.

Jolie retornou ao Chade para avaliar como a situação de segurança para os refugiados sudaneses se deteriorou desde a sua visita em 2004: “É sempre difícil ver pessoas decentes, famílias, vivendo em condições tão difíceis”. Jolie teve que viajar através de uma tempestade de areia para chegar até o campo de refugiados, testemunhando como tais tempestades agravam a vida já difícil dos refugiados, ao soterrar suas casas e tendas. Recebida em uma escola primária por crianças cantando, Jolie escutou suas histórias, preocupações e esperanças de um dia retornar para casa em Darfur. Posteriormente, em discurso durante o simpósio de Council on Foreign Relations, Jolie relatou: “Nós últimos sete anos, eu tenho trabalhado com o ACNUR e viajado ao redor do mundo para tentar chamar a atenção para os refugiados e deslocados internos. E tem sido uma educação notável. Em minha última viagem ao Chade, eu perguntei a um grupo de refugiados: do que eles precisavam, quais eram suas preocupações. Uma mulher respondeu melhor acesso à água, outro disse que eles precisavam de médicos, barracas melhores. E um jovem rapaz levantou a mão e disse: precisamos de um julgamento, pois ele tinha ouvido naquela manhã pela Rádio BBC que o TPI (Tribunal Penal Internacional) havia emitido mandados de prisão e aquilo significou algo para ele. Ele estava pedindo por algo que qualquer um de nós pediria após sermos violados, tendo acontecido coisas horríveis à sua família, e eu ainda senti em meu coração que talvez ele nunca veja esse julgamento; a justiça muitas vezes parece ser um luxo de nações ricas. Em muitos lugares onde estive, vi refugiados voltando a viver entre as mesmas pessoas que os atacaram. A paz é colocada antes da justiça, muitas vezes no lugar da justiça e por insistência do perpetrador. E isto está acontecendo agora com Joseph Kony em Uganda e com o presidente Bashir no Sudão. Nós os deixamos ditar o que vai acontecer. Nós permitimos que aqueles que destruíram seus países decidam o futuro de suas nações. Agora, eu acredito – depois de retornar a países que, após um breve período de paz, estão novamente em guerra, que não há paz duradoura sem justiça. Vi refugiados cujas rações foram cortadas quase pela metade, vi-os esperando o caminhão de ajuda chegar, apenas para descobrir que os suprimentos foram roubados pelos rebeldes que ainda estão ativos. Conversei com crianças que tiveram contusões, me mostraram e disseram: ‘alguém veio e nos deu novos materiais escolares, mas os homens maus levaram tudo embora, porque eles ainda estão lá’. E eu me sentei em uma barraca com mulheres que estavam prestes a retornarem à terra natal – mulheres cujas filhas foram estupradas e maridos foram assassinados, e muitos de seus filhos também mortos ou torturados, e eu as ouvi perguntar: ‘Como é seguro voltar?’. E eu vi os trabalhadores humanitários lutarem para explicar que alguns papéis foram assinados, algumas pessoas apertaram as mãos. Mas eles não dizem que a ajuda aos países de acolhimento acabou porque a comunidade internacional quer ver repatriamentos e progresso, mas que nada mudou realmente para garantir sua segurança, e que eles estão retornando para a mesma ilegalidade que os obrigou a fugir. Eu não sei se a Corte Penal Internacional é a resposta, eu não sei que tipo de corte seria a ideal para que todos nós concordássemos e a tornássemos forte o suficiente, eu não faço ideia. E após sete anos fazendo esse trabalho de campo, eu acho que ainda tenho muito a aprender, mais de uma coisa eu sei: nenhuma mãe que teve seus filhos mortos na sua frente, nenhuma jovem vendida como escrava, nenhum menino sequestrado e forçado a ser criança soldado e nenhuma menina, como a de três anos de idade que eu conheci em Serra Leoa que teve seus membros cortados devem simplesmente esquecer”.

24.  Agosto de 2007, Iraque & Síria.

Jolie acompanhou a situação dos refugiados iraquianos em um centro de registro do ACNUR na Síria, em um acampamento improvisado ainda no Iraque e a travessia de muitos em um posto de fronteira entre os dois países. “Eu vim para a Síria e o Iraque para chamar atenção à crise humanitária e exortar os governos a aumentarem seu apoio ao ACNUR e parceiros. Meu único objetivo em ambos os países é destacar a situação humanitária dos desenraizados pela guerra no Iraque”.

25.  Outubro de 2008, Afeganistão.

Jolie visitou o país para conhecer os êxitos e as dificuldades dos retornados durante o processo de reintegração local, testemunhando as circunstâncias humanitárias difíceis do país e exortando mais apoio internacional. “A coragem, resistência e dignidade tranquila de famílias retornadas reconstruindo suas vidas contra qualquer tipo de adversidade, que poucos de nós conseguimos imaginar, mostram o espírito humano no seu melhor”, afirmou a Embaixadora após testemunhar os problemas enfrentados pelos retornados.

26.  Fevereiro de 2009, Tailândia.

Jolie testemunhou as dificuldades enfrentadas há duas décadas por refugiados birmaneses em campos fechados na Tailândia, solicitando ao governo tailandês maior liberdade de movimento aos refugiados para que eles pudessem trabalhar ou ter acesso ao ensino superior fora dos campos. “Fiquei triste ao conhecer uma mulher de 21 anos que nasceu em um campo de refugiados, nunca esteve fora do campo e agora está criando seu próprio filho dentro do acampamento”, narrou a Embaixadora.

27.  Julho de 2009, Iraque.

Jolie retornou ao Iraque para acompanhar a situação dos deslocados internos e disse aos jovens e às crianças: “Vocês precisam de ajuda não porque são pobres, mas porque são o futuro do Iraque”.

28.  Setembro de 2009, Quênia.

Jolie visitou Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo localizado na fronteira nordeste do Quênia com a Somália, descrevendo-o como um dos mais terríveis acampamentos que já conhecera. Porém, ressaltou a dignidade e o espírito de resistência e coragem de seus moradores: “As famílias somalis que conheci hoje estão cheias de carinho e afeto. Eu gostaria que mais pessoas pudessem conhecê-los, então teriam um forte desejo de ajudar”.

29.  Outubro de 2009, Síria.

Jolie fez um chamado à comunidade internacional para que os milhares de refugiados iraquianos ainda no exílio não sejam esquecidos, apesar da relativa melhora da situação de segurança em sua terra natal. “Muitos refugiados iraquianos não podem retornar ao Iraque devido ao grave trauma que experimentaram, à incerteza das novas eleições, às questões de segurança e à falta de serviços básicos. Assim, eles continuam precisando do apoio da comunidade internacional”.

30.  Fevereiro de 2010, Haiti.

Jolie disse que foi ao país para “ouvir e aprender”, visitou os sobreviventes do terremoto e acompanhou o trabalho humanitário de organizações locais e internacionais. “Fiquei impressionada com a força e o espírito do povo haitiano. Crianças de no mínimo nove meses de idade lidando com amputações com uma resistência extraordinária”. Antes de chegar ao Haiti, Jolie também passou um dia na República Dominicana para acompanhar o atendimento às vítimas do terremoto.

31.  Abril de 2010, Bósnia & Herzegovina.

Jolie visitou os refugiados do conflito da antiga Iugoslávia, os quais ainda viviam em centros coletivos, muitas vezes em condições terríveis e por mais de uma década, e cujos filhos nasceram no exílio e desconheciam o lugar de origem da família. “Eu tenho meu corpo, mas ele não tem mais alma”, disse uma refugiada a Jolie que, mesmo triste com muitas das coisas que ouviu, ainda afirmou: “Estou inspirada por essas famílias. Apesar das duras realidades da sua existência instável, elas têm uma determinação incrível para construir um futuro melhor para seus filhos”.

32.  Junho de 2010, Equador.

Jolie acompanhou as operações de campo do ACNUR para alcançar à população refugiada que vive em locais remotos, em pequenas aldeias, e chamou a atenção para os menores desacompanhados e a violência contra mulheres refugiadas. Mulheres solteiras, meninas e afro-colombianos estão entre os mais vulneráveis da população atendida. A Embaixadora reencontrou algumas pessoas que conhecera em 2002: “Estou tão feliz por tornar a ver alguns rostos familiares, refugiados que conheci durante a minha viagem de 2002”.

33.  Agosto de 2010, Bósnia & Herzegovina.

Jolie retornou ao país para se reunir com o presidente e discutir uma série de questões, incluindo a situação dos deslocados internos testemunhada em sua viagem anterior. Segundo o ACNUR, a agência tem trabalhado no país desde 1992 e, durante os conflitos na Península Balcânica, empreendeu uma das maiores operações de socorro já organizadas. Dos restantes 113 mil deslocados internos, cerca de sete mil ainda estão vivendo em alojamentos coletivos criados há mais de 15 anos como moradia temporária. Jolie exortou os políticos a transformarem as estratégias relacionadas às necessidades dos deslocados internos que estão contidas no acordo de paz em medidas concretas e com um pouco mais de urgência.

34.  Setembro de 2010, Paquistão.

Jolie destacou o sofrimento de milhões de vítimas das enchentes que atingiram o país em 2010. Viajando como enviada especial de António Guterres, visitou campos de refugiados e assentamentos para deslocados internos. A Embaixadora lembrou: “Não devemos esquecer que a enchente não é o único trauma que assola este país. Eles ainda estão reconstruindo a infraestrutura abalada pelo terremoto de 2005, continuam a ter um grande número de deslocados internos como consequência do conflito no norte do país e acolhem 1.7 milhões de refugiados afegãos. Ao longo das últimas três décadas, o Paquistão tem sido muito generoso em acolher aquela que é a maior população refugiada do mundo. Agora, é o próprio povo paquistanês que está precisando de ajuda em larga escala”.

35.  Dezembro de 2010, Espanha.

Em companhia com o também Embaixador da Boa Vontade Jesús Vásquez, Jolie prestou homenagem à equipe do ACNUR pelo aniversário de 60 anos da agência. “Eu gostaria de destacar a força e a coragem dos refugiados no mundo e de outras pessoas deslocadas à força que são, para todos nós, um exemplo de generosidade e de dignidade. E também à equipe do ACNUR, que por muitos anos arrisca suas vidas para proteger a vida dos refugiados”. A atriz também discutiu sobre sistema de refúgio da Espanha, fluxos migratórios no país e reassentamento.

36.  Março de 2011, Afeganistão.

Nesta missão, Jolie conheceu deslocados internos e refugiados repatriados, que ainda encontravam dificuldades para sobreviver e se reintegrar à sociedade com dignidade, mesmo quase dez anos depois de retornarem à terra natal. “O foco precisa ser colocado na reintegração, e isso não significa apenas abrigo, mas certificar-se de que haverá água, oportunidades de emprego, escola para as crianças e clínicas médicas”, afirmou. Jolie reencontrou Khanum, que durante a visita da atriz em 2008, tinha acabado de dar à luz a Samir: “Foi muito angustiante ver que, por causa das condições precárias, Samir parece estar sofrendo de algum tipo de atraso no desenvolvimento devido à desnutrição ou à falta de cuidados médicos. Ele não pode andar e está sobrevivendo em um armazém muito frio e úmido”, disse Jolie. “É difícil definir em qual situação focar, qual precisa de mais atenção, quem são os mais vulneráveis. E acho que é uma vergonha identificar uma pessoa como a mais vulnerável ou uma situação como a mais terrível, porque não há comparações, há tantas situações no mundo, estamos preocupados com as pessoas na Costa do Marfim, na Líbia, estamos preocupados com seu direito de ir e vir, o direito de solicitar refúgio, se lhes serão concedidos estes direitos, se lhes darão segurança. E estamos preocupados com as pessoas abandonadas aqui por tantos anos, há tantas necessidades que devem ser atendidas, há grandes esforços, mas nós ainda temos muito, muito que fazer”.

37.  Abril de 2011, Tunísia.

Jolie visitou o país para destacar a situação de cerca de 440 mil pessoas que fugiram da Líbia por conta dos conflitos da Primavera Árabe. Mais da metade foi para a Tunísia, majoritariamente imigrante que trabalhava na Líbia, mas também cerca de 2.500 pessoas de países afetados por conflitos. A Embaixadora visitou o campo de trânsito Choucha, o qual acolhia mais de sete mil pessoas à época, entre egípcios, chadianos, eritreus, somalis etc. “Era um acampamento bem gerido, apesar dos desafios de se lidar com diferentes origens culturais e encontrar diferentes soluções para elas. Nem todo mundo pode pegar um avião e voltar para casa (no caso dos trabalhadores migrantes), e você tem que gerenciar as expectativas de quem fica para trás”. Jolie conheceu uma família somali que foi obrigada a se deslocar continuamente por dezoito anos. Eles fugiram pela primeira vez para o Oriente Médio, mas foram enviados de volta. Então, tentaram fugir da Somália de barco, mas foram presos na Líbia durante cinco meses, até mesmo a filha pequena de cinco anos de idade. Então recém chegados ao acampamento de Choucha, receberam reconforto de Jolie: “Espero que este seja o última lugar antes de encontrar um país onde vocês possam ter uma casa e, assim, parar de se deslocar”.

38.  Junho de 2011, Turquia.

Jolie pôde acompanhar os primeiros fluxos de refugiados gerados pelo conflito na Síria. À época, eram 9.600 pessoas vivendo em quatro campos de refugiados geridos pela Turquia com o Crescente Vermelho Turco. Atualmente, a população síria na Turquia é cerca de 100 mil pessoas. Em um campo, Jolie se encontrou com uma mulher que conseguiu deixar a Síria grávida, após o assassinato de seu marido, dando à luz a seu filho no acampamento. Quando Jolie chegou ao campo, uma multidão de crianças com “liberdade” pintada em suas testas a recepcionou. A atriz também destacou a relevância da campanha global do ACNUR, “one is too many”, para a crise na Síria: “Na campanha, nós salientamos o fato de que um refugiado sem abrigo já é muito, e nesta última crise nós temos visto milhares de pessoas precisando de ajuda. Essas pessoas merecem e precisam da nossa ajuda”.

39.  Junho de 2011, Malta & Itália.

Jolie e o Alto Comissário António Guterres se reuniram em uma pequena ilha italiana com pessoas que fugiram da África de barco, incluindo menores desacompanhados, e também lembraram àqueles que perderam suas vidas no trajeto. Jolie e Guterres visitaram a Porta d’Europa, um portão de pedra próximo ao mar aonde centenas de barcos chegam com imigrantes do Norte da África, incluindo refugiados e solicitantes de refúgio. Só no primeiro semestre de 2011, mas de 40 mil pessoas se arriscaram em barcos superlotados para chegar a Lampedusa, com mais de 1.500 mortos na tentativa. “Quando eu penso nessas pessoas, nessas famílias, eu tento imaginar o que forçou essa pessoa, por exemplo, uma mãe com filhos, a fazer essa viagem. Que tipo de vida ela deve ter vivido, o que ela deve ter sofrido, para chegar ao ponto onde seu último recurso é pisar num frágil barco superlotado. Como deve ter sido a vida de alguém cuja melhor alternativa é correr o risco de afogamento e sufocamento, só para chegar a um novo país, onde ela ainda pode ser recusada, enviada de volta ao mar. Poucos de nós podem começar a entender que tipo de existência dolorosa essa pessoa deve ter levado”, disse Jolie.

 

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