Vidas solidárias

sexta-feira, março 7, 2014

ator George Clooney

George Clooney na África.

Quando em Janeiro de 2010, a terra tremeu no Haiti, deixando um rastro de desolação, morte e doenças no país, Sean Penn não se limitou a passar um avultado cheque para ajudar a população.

Apesar da cólera que alastrava, das parcas – ou quase inexistentes – condições sanitárias e da extrema pobreza que ali se vivia, meteu-se num avião rumo ao país caribenho, no intuito de participar na sua reconstrução. O cenário era de profunda miséria. Todos queriam escapar ao horror e o actor voluntariou-se para ir ajudar os que de lá não podiam sair. Muitos outros por ali passaram mas, na maioria dos casos, nem uma noite lá dormiram. Sean Penn ficou, sacrificando o seu conforto e pondo em risco a sua segurança, vivendo num acampamento montado para receber os muitos milhares que ficaram sem casa. E criou uma organização, a J/P Haitian Relief para assegurar cuidados médicos, comida, água e habitação à população. Ainda hoje esta é uma das mais activas organizações de solidariedade social no local (este ano o actor já promoveu uma festa na qual angariou 6 milhões de dólares). “Quando cheguei depois do tremor de terra, lidávamos com um campo onde viviam 60 mil pessoas. Era o maior campo em Port-Au-Prince. Saber que todas essas pessoas estão a viver em casas e foram realojadas devido ao nosso programa é muito comovente”, disse o actor, em Janeiro, à revista People.

E se há quatro anos, Sean Penn circulava pelas ruas de Port-Au-Prince com uma arma no bolso, hoje tudo mudou. É que não só o protagonista de Mystic River já é reconhecido pela população, quase cidadão honorário e embaixador do país, como a namorada, a também actriz e activista Charlize Theron, lhe pediu para se desfazer das suas armas: Penn tinha 67. Mas não hesitou em satisfazer o pedido da namorada que, durante a adolescência, viu a mãe matar o pai, alcoólico, a tiro, num dia em que este as atacou ameaçando as suas vidas. “Vou derretê-las todas, bem como as toneladas de munições que tenho, e Jeff Koons vai fazer uma escultura a partir desses materiais, para vender na minha festa de angariação de fundos para o Haiti”, disse o actor ao jornalista Piers Morgan. Depois de uma luta renhida para ver quem conseguiria arrematar a obra, foi o jornalista da CNN Anderson Cooper a sair vencedor que, com uma licitação de 1,4 milhões de dólares, deixou para trás Piers Morgan e Gwyneth Paltrow, que também estavam de olho na escultura armada.

Galas para angariação de fundos são habituais nos EUA e, se a causa for justa, e mediática, não faltarão caras conhecidas a puxar das carteiras. Mas se para quem ganha milhões anualmente, um cheque de alguns milhares de dólares não exige um grande esforço, representando um elevado – e compensatório – investimento em relações públicas, uma viagem para um país com doenças contagiosas e deficientes condições sanitárias, já exige uma força e dedicação de que muitos não são capazes.

No entanto, e apesar de tudo o que isso implica, são vários os actores de Hollywood a fazê-lo. E se Sean Penn é o rosto mais visível de uma dedicação extraordinária, outros não lhe ficam atrás. Angelina Jolie é hoje, a par de Penn, uma das mais empenhadas actrizes de Hollywood em denunciar casos de pobreza extrema no mundo.

Embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Jolie tem ido a países como Serra Leoa, Camboja, Paquistão, Kosovo, Namíbia, Sudão, Iraque e Haiti, em cujas visitas, aquela que é uma das mais bem pagas e mais mediáticas actrizes do mundo, aproveita a sua posição para chamar a atenção mundial para os conflitos e campos de refugiados em causa. E fá-lo de várias maneiras, desde uma campanha publicitária para a Louis Vuitton no Camboja, a encontros políticos no Fórum Económico Mundial em Davos, onde foi oradora, passando por acções de lobbying em Washington para defender os direitos humanos à escala global. A par disto, Angelina é também uma das presidentes da Education Partnership for Children of Conflit, que financia programas de educação para crianças que têm, de alguma forma, as suas vidas afectadas por guerras, e cujas reunião anuais juntam chefes de Estado, empresários, filantropos, prémios Nobel da paz e directores das principais ONG mundiais.

Mas o seu trabalho estende-se, ainda, à fundação que criou com o marido, a Maddox Jolie-Pitt Foundation (entre os dois estima-se que, só em 2006, terão doado cerca de 8 milhões de dólares para acções de solidariedade) que tem como objectivo erradicar a pobreza extrema em áreas rurais do Camboja (de onde é originário o seu filho mais velho), protegendo os recursos naturais e trabalhando com os governos locais para diminuir a fome e fomentar o acesso a cuidados básicos de saúde e educação. E são várias as acções que promove no resto do mundo, como a escola para meninas que abriu no ano passado no Afeganistão, financiada pela venda de uma linha de jóias.

As escolas têm sido, de resto, uma das prioridades no que toca a projectos de desenvolvimento de celebridades de Hollywood. Madonna, que fundou a Raising Malawi (país onde adoptou duas crianças), organização que tenta melhorar as condições de vida de mais de um milhão de órfãos do país africano, planeou abrir uma academia de elite para meninas, projecto que acabou por sair gorado, depois de suspeitas de corrupção. A cantora anunciou, então, ir usar os fundos para construir dez escolas primárias para servirem mil crianças, de ambos os sexos. Mas acabou por ser ver envolvida numa polémica com a Presidente do país, Joyce Banda, que a acusou de exagerar nos feitos da sua organização e de ser uma cantora à “procura desesperadamente de reconhecimento (…). Dizer ao mundo inteiro que está a construir escolas no Malawi quando apenas contribuiu para a construção de salas de aula não é compatível com querer receber honras de Estado”. O caso nunca ficou esclarecido.

Controversa foi também a acção de Oprah Winfrey. Também ela fundou uma escola para meninas, a Oprah Winfrey Leadership Academy for Girls, na África do Sul, um colégio interno para raparigas que, fundado em 2007 a sul de Joanesburgo, tem como objectivo dar formação de elite a mais de 100 meninas provenientes de meios sociais pobres, projecto avaliado em cerca de 40 milhões de dólares que acendeu o debate: uns consideram que o dinheiro poderia ter sido distribuído por mais escolas em vez de gasto a criar uma infra-estrutura capaz de competir com qualquer colégio privado ocidental; outros exaltaram-se por estes ataques, defendendo que estas meninas têm tanto direito a uma escola de elite como quaisquer outras. De resto, foram já várias as visitas feitas pela apresentadora à sua escola que, ao que consta, vai de vento em popa.

Menos centrado em escolas mas não menos empenhado em usar o seu dinheiro e mediatismo para melhorar as condições de vida de países muito abaixo do limiar da pobreza está George Clooney. O actor é outro dos rostos de Hollywood frequentemente associado a trabalho social, com um grande foco no Darfur. O actor fundou a Not On Our Watch, juntamente com Don Cheadle, Matt Damon e Brad Pitt, dedicada a acabar com o genocídio no Sudão. Clooney já lá foi várias vezes, tendo conversado com vítimas de violação e tortura. A sua organização doou já milhões de dólares para ajudar a população, trabalhando com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas. E este ano Clooney, aproveitando o seu mediatismo, promoveu um leilão, à escala mundial, oferecendo a sua companhia para a estreia do seu novo filme, Caçadores de Tesouros, cujas receitas reverteram para a prevenção de crimes de guerra no Sudão e no Darfur.

E estes são apenas alguns dos rostos do activismo de Hollywood, num lote que engloba, e englobou, actores como Mia Farrow, Susan Sarandon, Tim Robbins, Robert Redford, Audrey Hepburn, Paul Newman, sem esquecer músicos como Bono ou Lady Gaga. Se são motivados por pulsões narcisistas, se tudo não passa de um golpe publicitário ou se, realmente, querem tentar contribuir para tornar o mundo um lugar melhor, o certo é que a disponibilidade, o dinheiro e o poder mediático têm servido para chamar a atenção para situações dramáticas, não as deixando cair no esquecimento. Afinal, mesmo com a crise económica com que o Ocidente se debate é preciso não esquecer que esta é a primeira geração que pode, efectivamente, acabar com a pobreza no mundo.

Fonte: Sol


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