Em visita à República Centro-Africana, chefe da ONU faz alerta global sobre crise no país

sábado, abril 5, 2014

“Alguns dizem que esta é uma crise esquecida. Estou aqui para ajudar a garantir que o mundo não se esqueça”, disse Ban Ki-moon, pedindo que cidadãos locais tomem como exemplo as lições de Ruanda.

Um homem e seu filho caminham por um local lotado de pessoas deslocadas internamente na capital da República Centro-Africana, Bangui, onde muitas pessoas permanecem em risco. Foto: ACNUR/S. Phelps

Um homem e seu filho caminham por um local lotado de pessoas deslocadas internamente na capital da República Centro-Africana, Bangui, onde muitas pessoas permanecem em risco. Foto: ACNUR/S. Phelps

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez uma visita neste sábado (5) à República Centro-Africana (RCA) para chamar a atenção do mundo para uma crise que tem sido marcada por atrocidades e sofrimento, chamando os cidadãos locais a prestar atenção às lições da vizinha Ruanda e pôr um fim à violência.

“Há um buraco no coração da África. Todos os dias, eu acordo pensando sobre seus desafios e dificuldades. Em todos os lugares, eu tenho pedido aos líderes para que intensifiquem os seus esforços”, disse Ban em um discurso ao Conselho Nacional de Transição do país.

“Alguns dizem que esta é uma crise esquecida. Estou aqui para ajudar a garantir que o mundo não se esqueça.”

A visita do chefe da ONU acontece em meio a uma escalada recente de combates na capital da RCA, Bangui, entre cristãos e muçulmanos. A crise, que começou em dezembro de 2012, deixou milhares de mortos e outros 2,2 milhões — cerca de metade da população da RCA — em necessidade de ajuda humanitária. Mais de 650 mil pessoas ainda estão deslocadas e mais de 290 mil fugiram para países vizinhos em busca de refúgio.

A visita, que não havia sido anunciada antes de sua chegada e durou apenas algumas horas, ocorre pouco antes da viagem de Ban Ki-moon a Ruanda para a 20ª comemoração do genocídio de 1994.

“A comunidade internacional falhou com o povo de Ruanda há 20 anos. E nós estamos em risco de não fazer o suficiente para as pessoas da RCA hoje”, disse o secretário-geral, que se reuniu com a chefe de Estado de Transição, a presidente Catherine Samba-Panza, bem como com representantes de famílias deslocadas em Bangui.

Ele ressaltou que é fundamental garantir que não haja tais “aniversários” na RCA. “Não repitam os erros do passado — prestar atenção às lições. O destino de seu país está em suas mãos. O povo da RCA não devem matar as pessoas da RCA.”

Ban Ki-moon alertou que crimes atrozes estão sendo cometidos no país. “A limpeza étnico-religiosa é uma realidade. A maioria dos membros da minoria muçulmana fugiram. Muçulmanos e cristãos foram colocados em perigo mortal simplesmente por causa de quem são ou no que eles acreditam.”

“A segurança do Estado foi substituída por um estado de anarquia”, acrescentou. “As pessoas têm sido linchadas e decapitadas. A violência sexual está crescendo. Atos horríveis foram cometidos enquanto outros comemoraram os atos. Houve total impunidade — responsabilização zero. Isso tem que mudar.”

Ban Ki-moon elogiou a União Africana e as forças francesas, conhecidas como MISCA e Sangaris, por seus esforços no terreno, mas observou que elas estão “sem recursos e sobrecarregadas”.

Para resolver esta situação, ele apelou pelo envio imediato de mais soldados e policiais, além de pedir a transformação já proposta da missão da União Africana em uma operação de manutenção da paz da ONU. Embora reconhecendo o esforço da União Europeia, que decidiu enviar forças nos próximos dias, o secretário-geral exortou a comunidade internacional a fazer mais e agir mais rapidamente.

“Vocês precisam de segurança. Vocês precisam do Estado de Direito. Vocês precisam de um futuro melhor. O mundo concordou com a nossa responsabilidade coletiva de proteger uma população em que o Estado não quer ou não pode fazer esse trabalho fundamental”, afirmou.

Soldados do Chade são responsáveis pela morte de 30 civis no país, aponta investigação da ONU

Uma investigação preliminar das Nações Unidas revelou, nesta sexta-feira (4), que soldados do Chade foram os responsáveis pela carnificina ocorrida em 29 de março na capital Bangui. Trinta civis morreram e mais de trezentos ficaram gravemente feridos após ataque em um mercado superlotado.

Em uma coletiva de imprensa, o porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Rupert Colville, esclareceu detalhes do inquérito: “Várias fontes contaram aos investigadores que soldados chadianos entraram em Bangui para defender conterrâneos e outros muçulmanos de ataques do grupo anti-Balaka”.

Soldados patrulham ruas do distrito de PK 12, palco do massacre que vitimou mais de 330 pessoas. Foto: ONU/BINUCA

Soldados patrulham ruas do distrito de PK 12, palco do massacre que vitimou mais de 330 pessoas. Foto: ONU/BINUCA

Entretanto, assim que chegaram ao mercado do distrito PK 12, os militares abriram fogo contra a população. “Mesmo quando as pessoas, desesperadas, fugiam por todas as direções”, continuou o porta-voz, “os soldados continuaram atirando indiscriminadamente”.

De acordo com os dados disponíveis, a ação resultou na morte de 30 pessoas. Entre os mais de trezentos civis em estado grave incluem-se crianças, pessoas com deficiência, mulheres grávidas e idosos – “quem menos tinha condições de correr pelas próprias vidas”, relata Colville.

Respondendo a perguntas sobre a identidade dos soldados, Colville disse que não eram tropas do Chade que participam da Missão da União Africana, mas forças regulares do exército do Chade.

Fonte: ONU


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