Um casamento sírio no Líbano: tempo de colocar a tristeza de lado e abraçar a vida

sexta-feira, junho 20, 2014

Refugiada síria dançando em uma celebração de casamento informal no campo de refugiados de Marj El-Khokh, sul do Líbano.

Refugiada síria dançando em uma celebração de casamento informal no campo de refugiados de Marj El-Khokh, sul do Líbano.

Nos fundos de uma grande tenda, Yousra está maquiada e com seu cabelo arrumado. Isso levará toda tarde. Na parte da frente, suas amigas estão dançando.

No final do dia, um casamento será realizado no campo de at Marj El-Khokh, em Marjayoun, sul do Líbano. Yousra, de 16 anos, está casando com Ahmed, de 21. Ambos são refugiados sírios, cujas famílias fugiram do conflito há mais de 18 meses.

O casamento deles não é arranjado; eles se viram no acampamento “de longe”, como o pai de Ahmed, Abdul Aziz, costuma colocar e, por fim, conseguiram chegar perto um do outro o suficiente para se falarem. Como a família de Yousra se mudou para o norte do Vale do Beqaa para se juntar aos outros parentes, o namoro continuou por telefone.

Marj El-Khokh é um campo informal que abriga 150 tendas e 700 pessoas. A Agência da ONU para Refugiados forneceu lona, madeira e fogões a lenha para as tendas, e cupons de comida. Os residentes do campo utilizam a eletricidade oferecida aos libaneses locais. Quando a população da cidade protestou, o ACNUR trabalhou em um acordo no qual se comprometia em manter o fornecimento de eletricidade para os refugiados.

“Sem a ajuda do ACNUR, um irmão pode matar o outro para comer para sobreviver”, disse Hamid, um residente do campo

Quase todas as famílias trazem alguma história de sofrimento e perda no exílio. Abdul Aziz, o pai do noivo, conta a história de sua sobrinha e da família dela que morreram no noroeste da Síria, na cidade de Idlib, oito membros de sua família ainda sofrem na Síria. Contudo, um casamento não é ocasião para a tristeza. “Vivemos com a morte”, ele diz. “Contudo, não devemos ser mórbidos e nem nos debruçar sobre a morte, mas sim pensar na vida e abraçá-la”.

No norte do Líbano, próximo à cidade de Trípoli, o casamento também está na mente das pessoas em uma antiga estância de férias na cidade de A Herri. Apenas uma curta caminhada ao longo de uma praia, no Mediterrâneo, o resort Nour é o lar de 500 refugiados sírios. Em um dos pequenos apartamentos construídos para os turistas de verão, Amina senta com suas filhas e fala, com tristeza, de um noivado – o de sua filha Batoul, de 14 anos.

“Eu me casei com 14 anos”, disse Amina, de 35, diz. “Eu nunca quis isso para minha filha, mas nós viemos de uma cultura conservadora. Em casa, as meninas nunca saíram com os meninos. Contudo, eles se encontram do lado de fora. Há pouco emprego e poucos vão à escola. Ficamos preocupados. Sentimos que tínhamos que proteger a honra dela”.

Batoul senta ao lado de sua mãe sem sorrir. Seu noivo, Mohammed, tem 17 anos e foi arranjado por seus pais. Depois de hesitar, Batoul diz que gosta dele e mostra uma foto. Mas depois, rapidamente, ela admite que não quer se casar. “Mas meus pais decidiram”, ela disse. “Não há nada que eu possa fazer”.

Acima, em outro apartamento, a amiga de Amina, Rabiha, fala sobre o clima de medo que afeta muitos pais refugiados aqui. Rabiha é a lider do comitê das mulheres locais, que o ACNUR ajudou a montar. “Na Síria, as meninas se casam depois da escola, aos 16, 17 ou 18 anos. Aqui não há escola para muitos. Os pais se preocupam com agressão sexual e estupro. E assim, ouvimos falar de casamentos arranjados para meninas de 14 e até 12 anos”.

Rabiha tentou convencer Amina e outras mães a não enclausurarem suas filhas em um casamento precoce. Fisicamente e psicologicamente elas são muito jovens, diz ela para as mães. Apesar do medo dos pais, não há relatos de casos de estupro próximos ao resort. Mas, por meia dúzia de vezes, ela falhou.

Ela e seu comitê, com a ajuda do ACNUR, continuarão tentar influenciar as atitudes, em conjunto com a organização de moradores, a pegar o lixo e lavar as salas uma vez por semana. “Para os jovens, especialmente as mulheres, a vida pode ser difícil. Eu tenho visto isso”, ela disse. “Sem escola, eles caem na depressão. Nós não devemos colocá-los em casamentos precoces”.

Em Marj El-Khokh, a atmosfera é mais otimista. Em um eco para o futuro Yousra diz: “O exílio é a nossa realidade agora e nós temos que lidar com ele. Queremos construir nossa vida e estou ansiosa para isso”.

Abdul Aziz ri enquanto espera pelas festividades da noite. “Tenho 60 anos e minha antiga vida confortável desapareceu em um instante. O principal prazer da vida é prover uma família e nós ainda estamos fazendo o que podemos. Se o casamento fosse lá em casa, eu teria abatido cinco cabras, mas aqui serão cinco galinhas”.

Por Don Murray em Marj El-Khokh, Líbano

Por: ACNUR


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