O futuro da infância de Gaza sob fogo

terça-feira, agosto 19, 2014

Em um hospital, menina recebe tratamento para ferimentos causados pelos bombardeios de Israel sobre Gaza, este mês. Foto: Khaled Alashqar/IPS

Em um hospital, menina recebe tratamento para ferimentos causados pelos bombardeios de Israel sobre Gaza, este mês. Foto: Khaled Alashqar/IPS

“Meu filho ficou cego e perdeu a capacidade de falar, seu pai morreu e seus três irmãos estão gravemente feridos. Ainda não lhe contamos sobre a morte do pai”, contou a mãe de Mohamad Badran, de sete anos. Ele está no hospital para tratar ferimentos graves causados pelos bombardeios israelenses sobre Gaza. “A única maneira que tenho para me comunicar com ele é abraçando-o”, acrescentou.

Os ataques aéreos israelenses a Gaza deixaram mais de 1.870 mortos e milhares de feridos desde que começaram, em 8 de julho. Também causaram danos na infraestrutura e destruíram milhares de moradias, o que obrigou numerosas famílias a buscarem abrigo nas 87 escolas administradas pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) no território palestino.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou em um comunicado que os bombardeios aéreos e os projéteis israelenses tiveram um “custo devastador entre os menores e mais vulneráveis de Gaza”, já que causaram a morte de pelo menos 429 crianças, e ferimentos graves em mais de 2.744. Metade dos 1,8 milhão de habitantes da Faixa de Gaza tem menos de 18 anos.

Algumas crianças sofreram ferimentos graves que não podem ser tratados em Gaza, porque o bloqueio israelense limitou severamente sua infraestrutura e capacidade médica. Segundo o Unicef, cerca de 400 mil crianças apresentam sintomas de problemas psicológicos como estresse, depressão, pesadelos e apego aos pais.

Monika Awad, porta-voz do Unicef em Jerusalém, afirmou à IPS que esta agência “e seus associados locais estão implantando programas de apoio psicossocial nas escolas de Gaza onde famílias de refugiados se abrigam. “Temos a responsabilidade moral de proteger o direito das crianças viverem com segurança e dignidade, segundo a carta das Nações Unidas para os direitos da infância”, acrescentou.

As severas consequências psicológicas que os ataques israelenses geraram em meninas e meninos, como perda da fala, são alguns dos grandes desafios que enfrentam os psicoterapeutas.

“Quando a guerra de Israel contra Gaza terminar, os psicoterapeutas terão que lidar com muitos dilemas previsíveis, como assassinato de famílias inteiras e… dos pais, que representam o centro da proteção e da ternura para as crianças. Esses casos terríveis deixam a criança em estado de perda e de choque”, explicou Sami Eweda, psiquiatra do Programa de Saúde Mental da Comunidade de Gaza, uma organização não governamental especializada em traumas.

“Primeiro temos que deter as causas principais destes traumas e problemas psicológicos, que é a guerra de Israel contra Gaza, e depois começar uma intervenção de emergência para apoiar a saúde das crianças e o tratamento de casos como “perda da fala, que é considerado um mecanismo de autodefesa para superar o trauma”, apontou Eweda à IPS.

O acesso aos serviços básicos é praticamente impossível em toda a Faixa de Gaza, onde bairros inteiros, como Shujaiyeh e Khuza’a, ficaram destruídos. A população dessas áreas sofre falta de acesso a água potável e vive quase sem luz desde que um bombardeio israelense destruiu a central de energia que era a única fonte de eletricidade na Gaza sitiada.

A Social Watch, uma rede de ONGs que monitora a erradicação da pobreza e a justiça de gênero no mundo, pediu à comunidade internacional que declare a Faixa de Gaza “zona internacional de desastre humanitário”, conforme solicitou a sociedade civil palestina.

“À violação sem restrições do direito internacional e os princípios humanitários se soma a ‘marginalização’ dos temas da erradicação da pobreza e da justiça social, que devem ser a principal prioridade comum. A recorrência desses episódios em Gaza é o resultado de não se ter agido antes diante de crimes de guerra semelhantes e de não se ter realizado negociações de boa fé para uma paz duradoura”, afirmou a Social Watch.

Um comunicado de imprensa da Save the Children, uma ONG defensora dos direitos da infância, destaca que “as crianças nunca começam as guerras, mas caem mortas, mutiladas, traumatizadas, e ficam sem lar, aterrorizadas e com cicatrizes permanentes”. A nota acrescenta que a “Social Watch não se deterá até que as crianças inocentes já não estejam sob fogo e sejam abordadas as causas profundas desse conflito. Se a comunidade internacional não tomar medidas agora, a violência contra as crianças de Gaza perseguirá nossa geração para sempre”.

“Reclamamos o cessar-fogo permanente e o fim do cerco a Gaza para garantir a entrega de ajuda humanitária e a prestação de serviços básicos às crianças”, destacou à IPS a porta-voz da Social Watch em Gaza, Asama Damo. “É necessária a intervenção da comunidade internacional para acabar com a situação humanitária catastrófica e combater as enfermidades da pele que se propagam entre os refugiados nas escolas da UNRWA devido à superlotação”, acrescentou.

Metade dos refugiados abrigados nessas escolas tem menos de 18 anos. “Israel atacou deliberadamente as instituições de ensino e o setor da educação em geral. Um grande número de mortos e feridos é de crianças e estudantes. Atacaram muitas escolas e jardins de infância”, pontuou Ziad Thabet, subsecretário do Ministério da Educação de Gaza. Na desastrosa situação atual em Gaza, parece que a guerra não queimou unicamente os corpos das crianças de Gaza, mas também o futuro da educação e da saúde.

Fonte: Envolverde/IPS


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